quarta-feira, 21 de abril de 2010

Demi Moore retoma carreira e apresenta novidades para 2010


Os bíceps diminuíram. As manchetes sensacionalistas sobre cachês extravagantes e depois isolamento rural foram substituídas por comentários frequentes sobre as mensagens dela no Twitter, muitas das quais referentes à sua campanha contra o tráfico humano. A voz rouca e os olhos notavelmente verdes que sempre a caracterizaram não mudaram, e o único sinal de idade é uma mecha de cabelos grisalhos e os óculos de leitura posicionados discretamente ao lado de seus óculos escuros de grife, na mesinha de café.

O tempo e as circunstâncias transformaram Demi Moore, 47, de superestrela das bilheterias e maníaca pela boa forma física em atriz de filmes pequenos acomodada no sofá em posição de ioga.

O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, sua estreia no cinema, em 1985, levou-a à mais maluca -e talvez mais lucrativa- carreira, entre as atrizes modernas. Moore fez comédias românticas (Sobre Ontem à Noite), filmes com forte apelo erótico (Proposta Indecente, Assédio Sexual), e grandes sucessos de bilheteria(Ghost! - Do Outro Lado da Vida e Questão de Honra), seguidos por fracassos de bilheteria como Striptease e Até o Limite da Honra, que quase destruiu a carreira da atriz que um dia teve o maior cachê de Hollywood.

Agora, Moore -casada com Ashton Kutcher, o papel a que ela se dedicou com mais afinco nos últimos anos-, está de volta às telas, de maneira discretas mas não menos eclética, com um filme de época sobre um grande roubo (Um Plano Brilhante), um drama familiar (Happy Tears) e The Joneses, seu mais novo trabalho, comédia independente lançada na sexta-feira.

Os sucessos e as limitações encontradas por Moore delimitam aquele estranho território em Hollywood no qual atrizes com mais de 40 anos podem encontrar a prosperidade (força, Sandra Bullock) ou uma paisagem absolutamente árida (queremos você de volta às telas, Michelle Pfeiffer).

Se agora ela interpreta mães -será a mãe de Miley Cyrus em LOL- em lugar de sedutoras, ótimo. Moore considera que sua maior realização é sua capacidade de aguentar os percalços da fama e emergir do lado de lá como mãe e esposa em momento de grande felicidade.

"O que me mais me orgulho é de meu relacionamento com meus filhos, meu marido, meu ex-marido, a mulher dele, e os meus amigos", disse Moore durante uma conversa de uma hora em uma doceira de Hollywood. "E creio que, em meio a isso, o que mais me causa orgulho é minha disposição -bem, não exatamente a disposição, mas a graça com que enfrentei e continuo a enfrentar meus obstáculos e desafios, e meu desejo e capacidade constantes de aceitar minhas falas e apreciar aquilo que tenho de imperfeito".

Nascida em Roswell, Novo México, Morre escapou a uma infância caótica e até trágica; o pai abandonou a família e seu pai adotivo, alcoólatra, terminou se suicidando. Em 1976, ela se mudou para Los Angeles, onde estudou na Fairfax High School.

Depois de deixar a escola para tentar carreira como atriz, ela conquistou seu primeiro grande papel na novela General Hospital, e sua carreira no cinema começou por acaso. Joel Schumacher, diretor e co-roteirista de O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, uma história sobre os problemas que os jovens enfrentam em suas vidas, mantinha um escritório no estúdio diante da sala ocupada pelo cineasta John Hughes. Moore foi fazer um teste para um filme de Moore, mas a espera era longa demais e ela estava indo embora quando Schumacher a avistou de passagem.

Ele enfrentava problemas para escalar uma atriz para o papel de Jules, uma jovem dramática que fracassa em uma tentativa de suicídio. E foi então que ele viu aquela jovem atriz percorrendo o corredor para ir embora.

"Saí de minha sala e vi aquele cabelo caminhando pelo corredor", conta Schumacher em entrevista por telefone. Ele pediu a Carl Kurlander, seu co-roteirista que a alcançasse. Kurlander voltou ofegante, minutos depois, e disse que ela trabalhava em General Hospital.

Moore deslumbrou o diretor quase imediatamente com sua mistura de beleza notável e o que ele define como "profundidade emocional", ainda que a tenha despedido do filme em determinado momento devido às travessuras da atriz -supostamente uso de drogas, embora nenhum dos dois confirme. "Demi fez com que aquele papel parecesse ter sido escrito para ela", disse Schumacher. "E começou a se disciplinar mais, a controlar seu comportamento".

Com o avanço de sua carreira, Moore se tornou conhecida em Hollywood como atriz tanto disciplinada quando exigente. Seus contratos que exigiam o uso de jatinhos executivos, guarda-roupas exóticos e igualdade na divisão de lucros com os colegas homens de elenco a tornaram conhecida como uma pessoa cobiçosa.

Mas uma queda estava a caminho.

Em 1998, depois do grande fracasso de Até o Limite da Honra, Moore trocou Hollywood pela vida de mãe de família. Sua mãe havia morrido, e seu casamento com Bruce Willis enfrentava problemas. "Eu me concentrei inteiramente nos meus filhos, e sem saber por quanto tempo o faria -um ano, dois anos. Segui o instinto, sabendo que a resposta seria revelada". E com isso vieram anos de trabalhos voluntários na escola, acompanhar as crianças em suas viagens, se comportar como mãe.

Mas um dia, ela diz, seus filhos se cansaram disso. E foi quando ela conheceu Kutcher, em um jantar em Nova York. "Depois de anos vivendo em uma cidade pequena", diz, "meus filhos sentiam precisar de algo maior, com mais diversidade. E me estimularam a voltar para Hollywood. E em seguida conheci o meu marido, o que me deu motivações pessoais para a volta".

Seu mais recente filme, The Joneses, com David Duchovny, explora a ideia do consumismo exagerado, algo que Moore diz fasciná-la. "Adorei a mensagem de que, embora ter coisas seja bacana, e não haja nada de errado em uma boa bolsa, casa, carro ou roupas, isso em última análise não é a resposta para nossa realização ou felicidade; a resposta é a conexão humana que temos uns com os outros, e sem ela as coisas materiais não importam".

Derrick Borte, o roteirista e diretor de The Joneses, falou de Moore em termos semelhantes aos empregados pelos profissionais que a dirigiam 20 anos atrás. "Ela tem um exterior duro, de profissionalismo e motivação que vende muito bem em cena, mas demonstra falhas e vulnerabilidades de maneira brilhante".

Por enquanto, ao que parece, Moore se sente confortável com suas vulnerabilidades, nas telas e fora delas. Seu marido tenta evitar compromissos que o impeçam de passar todas as noites com ela, e a atriz declara ter "absoluta" confiança em que ele estará ao seu lado quando ela tiver 70 anos. Ela também se dedica às suas causas assistenciais. A jornada de sua vida lhe parece clara, e ela fala disso com frequência. Os filmes agora são a cobertura, e não o bolo.

"Ela está bem casada, seus filhos já cresceram e parecem ótimos, e o envolvimento dela em causas políticas é forte", disse Schumacher. "O melhor é que todo mundo deixe que ela seja Demi Moore".

The New York Times

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